jueves, 4 de diciembre de 2014

Educação nutricional

Educação nutricional
Cristiane Grando
Escritora, tradutora, doutora em Letras (USP) e docente na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

Para o dia-a-dia, procure servir receitas simples com ingredientes frescos, frutas, legumes, verduras e grãos, que são importantes fontes de nutrientes. Não exagere no consumo de carnes e varie sempre a carne a ser servida. Ofereça peixes e frutos do mar pelo menos uma vez por semana.” segundo o livro Dona Benta: comer bem”

Dona Benta: comer bem”, livro tradicional da culinária brasileira ensina: Entre comer e saber comer existe uma grande diferença. É erro supor que a escolha, a confecção e o arranjo dos pratos possam ser feitos arbitrariamente, sem levar em conta as condições e as necessidades orgânicas. Além da estética, a refeição deve ser balanceada, oferecendo proteínas, carboidratos e vitaminas; os cardápios devem unir sabor, aroma, apresentação e qualidade nutricional.

A palavra “nutricional” se refere à “nutrição” e “nutritivo” segundo o “Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa”. “Nutrição” é “fonte de sustento; alimento”, o “conjunto de processos através dos quais um organismo absorve e assimila os alimentos”. “Nutritivo” é o “que nutre, que tem a propriedade de nutrir, de alimentar”. Exemplo: “o poder nutritivo do feijão”. Pela correria, alguns brasileiros têm deixado de lado o hábito saudável de comer feijão com arroz todos os dias, acompanhados de carne, peixe e/ou ovo, saladas e/ou legumes. “A boa alimentação requer o uso das verduras. Associados à carne e ao pão [ou arroz com feijão], os vegetais facilitam a digestão por seus sucos, além de atuarem como excitante pelos sais que contêm” - segundo o Dr. Proust, citado em Comer bem”. Sobre o consumo da cebolinha e das verduras, Sonia Hirsch afirma no livro “Meditando na cozinha”, publicado no Rio de Janeiro pela Editora Corre Cotia: “o verde leva para dentro vitaminas, minerais e a preciosa clorofila, que nutre e limpa.” Uma dica é compor o prato com alimentos coloridos, pois, em geral, resulta ser saudável, atraente, vistoso.

Aprendamos com Gouffé, citado em “Dona Benta”: sem boas matérias-primas, nem os maiores cozinheiros do mundo farão bons pratos. Aconselho evitar comidas industrializadas e congeladas, açúcares e doces; é melhor usar mel ou açúcar mascavo para adoçar. Ao acordar, o corpo absorve mais os alimentos por ter ficado muitas horas em jejum. Por isso, na primeira refeição do dia, devemos evitar açúcares e consumir especialmente os nutrientes de que mais o corpo precisa, em especial se apresenta alguma deficiência nutricional. Sigamos estes sábios conselhos do livro “Dona Benta”: “Evite a utilização de corantes e essências aromáticas. As frutas são mais saudáveis e têm gosto e aroma mais pronunciados.”; “Nem tanto ao mar nem tanto à terra, diz o refrão. Nem verde e nem maduro demais. O fruto deve ser comido assim que chega ao estado de maturação.”


Deixo o convite aos que se dedicam a cozinhar: que escolham ingredientes frescos e nutritivos; que busquem informações sobre nutrição em leituras instrutivas. Segundo Sonia Hirsch, meditação é um jejum mental, no qual se procura o não pensar. Por isso, cozinhar também pode ser meditação. Para cozinhar é preciso três ingredientes: paciência, entrega e atenção, o que dá margem a micromeditações – enquanto você faz, não pensa, não julga; apenas observa.


Vídeos e textos curtos sobre alimentação saudável: “Deixa sair: a saúde é subversiva porque não dá lucro a ninguém” de Sonia Hirsch <www.soniahirsch.com>; “Do campo à mesa: você é o que você sabe sobre o que come” de Francine Lima: <www.canaldocampoamesa.com.br>.



GRANDO, Cristiane. “Educação nutricional”. Fique em Evidência. Ed. 53, Ano 4. Cerquilho, dezembro de 2014, p.32

Panambi: o voo da borboleta


Panambi: o voo da borboleta
Cristiane Grando

Escritora, tradutora, gestora cultural, doutora em Letras (USP) e professora na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)


Aos 7 anos de idade descobri que a nossa fala é o nosso canto. O mais natural de todos, pois cada fala é uma melodia. – Hermeto Pascoal


Para Hermeto Pascoal, a fala é canto. As crianças sabem isso intuitivamente e, ao ouvir, ao falar e ao cantar em várias línguas, são capazes de se entregar com tamanha naturalidade que podem transformar as palavras da poesia e da música numa festa de sons. A beleza do som na poesia falada, no canto e nas improvisações da performance revitaliza as identidades sociais; os laços comunitários se estreitam através de dramatizações e da presença do livro e da literatura na vida cotidiana das crianças.

Panambi” em guarani, uma das línguas oficiais do Paraguai, significa “borboleta”, ou “mariposa” em espanhol, que também é língua oficial do país vizinho. Em Foz do Iguaçu, onde resido, “Panambi” é o nome de um projeto que existe há quase três anos, coordenado pela professora sênior Alai Garcia Diniz, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Este projeto já percorreu vários espaços da cidade. Além de atividades artísticas – recitais com poetas e leitores de várias nacionalidades, encontros culturais com comunidades indígenas - o Panambi existe há mais de um ano na Biblioteca Comunitária Cidade Nova Informa – CNI, onde crianças memorizam textos, fazem performances, falam poesia e cantam músicas em português, guarani, espanhol, em encontros semanais coordenados pela professora Alai, com aulas ministradas pelos bolsistas de extensão da PROEX-UNILA Izabela Fernandes de Sousa e Adriano Mendes Brito dos Santos, estudantes de Letras e de Música.

O repertório de poemas e canções das crianças do Panambi é impressionante: elas deslizam-se pelos ares da Biblioteca falando poesia e cantando em várias línguas. O surpreendente é que o resultado costuma ser carinhas de felicidade e brilho nos olhos; e nenhuma preocupação por não dominar línguas estrangeiras ou a linguagem literária, pois as crianças se permitem “sentir” o poema, uma experiência que vai muito além da compreensão dos seus significados. A literatura tem essa capacidade: a de fazer sentir alegria, tristeza, compaixão, ternura não só com o significado de um texto, mas também com a sua sonoridade. O projeto Panambi explora os cinco sentidos e a alegria dos encontros coletivos. Quando as crianças se juntam e se soltam, e correm, e cantam, e pulam, e declamam, a Biblioteca é uma festa! O ambiente se transforma num espaço vivo.

Sonhamos em registrar num documentário as performances das crianças do Panambi, para que suas vozes não se percam, para que o centro e os demais bairros da cidade se comuniquem, para que palavras poéticas voem para outras cidades e países. No presente e no futuro, visualizamos inúmeros voos ao Panambi na voz e no corpo de muitas crianças.


Agradecimentos à professora Laura Ferreira, por sua leitura e comentários.





GRANDO, Cristiane. Panambi: o voo da borboleta”. Fique em Evidência. Ed. 52, Ano 4. Cerquilho, novembro de 2014, p.32

lunes, 27 de octubre de 2014

O riso

O riso
Cristiane Grando
Escritora, tradutora, doutora em Letras (USP) e docente na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

Meu erro [...] devia ser o caminho de uma verdade: pois só quando erro é que saio do que conheço e do que entendo. Se a ‘verdade’ fosse aquilo que posso entender – terminaria sendo uma verdade pequena, do meu tamanho.”
Clarice Lispector

A primeira coisa a fazer pela manhã é sorrir! E continuar assim.” Desta maneira inicia Jane Seabrook o seu livro “Você é diferente” (São Paulo, Editora Fundamento Educacional, 2008). Entre sorrir e rir, basta um passo.

Quando rimos, além de relaxar os músculos, nos presenteamos com a possibilidade de vivenciar uma “catarse”. O Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa apresenta algumas definições que podem nos ajudar a entendê-la: “purificação do espírito do espectador [de teatro, por exemplo] através da purgação de suas paixões, especialmente dos sentimentos de terror ou de piedade vivenciados na contemplação do espetáculo trágico”; “liberação de emoções ou tensões reprimidas”; “efeito liberador produzido pela encenação de certas ações, especialmente as que fazem apelo ao medo e à raiva”.

Na Grécia antiga, os concursos dramáticos anuais começaram contemplando apenas as peças “sérias”, as tragédias; só em 487 a.C. ocorreu o primeiro concurso de peças cômicas, que eram consideradas um gênero menor. Podemos entrar em catarse através do riso, que nos ajuda a melhorar o nosso estado de ânimo, amenizando os sofrimentos. Um bom trabalho nesta linha, no universo hospitalar, é o dos “Hospitalhaços”, ONG com mais de 400 palhaços voluntários no Brasil, que atua em Cerquilho desde 2013. Segundo a terapeuta corporal Deise Castro da Silva, por onde esses palhaços passam, deixam “um rastro de felicidade”.

Tentando ser engraçados, algumas vezes e sem querer (é lógico), cometemos gafes. Vale lembrar o que afirma Claudia Matarazzo: “uma gafe não é o fim do mundo, e é claro que dá para sobreviver. Com humor e muita presença de espírito é até possível contornar uma gafe quase fatal.” (“Gafe não é pecado”. São Paulo, Melhoramentos, 1996). Lembre-se: “Ninguém está prestando atenção; até o momento em que você comete um erro.” - afirma Jane Seabrook. Por isso, em casos de tensão, ria de si mesmo! Ria por dentro. Ria sempre que possível. Rindo nos concentramos no presente: no aqui e agora. A própria palavra "presente" diz tudo: é um "presente".

Um bom começo para sair da tristeza é posicionar os lábios em forma de sorriso – até nos casos em que o nosso interior não encontra motivos para sorrir, quando estamos chateados, amargurados ou tristes. O cérebro identifica estados de alegria quando nossos músculos faciais estão em forma de (sor)riso. Sorrindo, ficamos mais relaxados; e a vida, mais leve. Como cantam Tom Jobim e Vinicius de Moraes “A Felicidade”: “Tristeza não tem fim/ Felicidade sim// A felicidade é como a pluma/ Que o vento vai levando pelo ar/ Voa tão leve/ Mas tem a vida breve/ Precisa que haja vento sem parar”. O riso, a poesia e a música podem dar à vida um toque de leveza... e de felicidade. Por que não?


GRANDO, Cristiane. “O riso”. Fique em Evidência. Ed. 51, Ano 4. Cerquilho, outubro de 2014, p.32

jueves, 11 de septiembre de 2014

Trabalhar em grupo

Trabalhar em grupo
Cristiane Grando
Escritora, tradutora, doutora em Letras (USP) e docente na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
"Viver é trabalhar em equipe, o tempo todo. Portanto, quanto mais rápido tivermos consciência disto, melhor!" - Clorinda Sagala Denck em seu livro “Corrente de balões”
A vida em sociedade e os trabalhos em grupo se sustentam em certos pilares se queremos alcançar bons resultados e criar ambientes pacíficos. Um deles é o “diálogo”: a interação entre duas ou mais pessoas. Para que haja realmente diálogo, é essencial “aprender a ouvir”: saber se colocar no lugar do outro a fim de entender seus pontos de vista, seu posicionamento, sua forma de ver e de sentir o mundo - primeiro passo para que aconteça uma boa comunicação. Na atualidade, abandonamos a prática de ouvir e de dedicar atenção ao outro, assim como a calma, o silêncio, os momentos únicos de estar alguns minutos sozinhos para pensar, ler um poema, ouvir música. A correria do dia a dia e o desrespeito consigo e com o outro têm se refletido em atos violentos na sociedade, na escola, na família. Um pouco além do “aprender a ouvir” é quando estamos abertos a críticas. Às vezes, aprendemos muito sobre nós mesmos se ouvimos com a mente aberta comentários alheios: o que podemos melhorar no trabalho ou no relacionamento com familiares e amigos, por exemplo. Ao criticar alguém, o ideal é escolher com cuidado as palavras, a forma de encaminhar as questões e, de preferência, que seja um tema discutido a sós ou com um mínimo de pessoas. Nem todo mundo está preparado para receber críticas.
Ao participar da oficina de cantoLas sonoridades de la voz” em 2011 no Centro Cultural de España em São Domingos, aprendi sobre a importância de pensar em todos os membros do grupo sempre. O professor mexicano Juan Pablo Villa mostrou na prática, montando um coral, como o grupo era prejudicado se uma pessoa destacasse sua voz quando o objetivo era criar um som harmônico entre todos os participantes. Só era incentivado a se sobressair quem fosse convidado para ser solista. Estarmos atentos aos objetivos de um trabalho sem perder de vista o todo nos ajuda a identificar quais são as posturas que nos levam a um melhor desempenho e a construir relações humanas com qualidade.
Respeitar horários de reuniões e de trabalho é essencial. Confirmar presença ou informar a impossibilidade de participação em reuniões. Em casos de imprevisto, nunca deixar de avisar que haverá atraso ou falta, salvo se há impossibilidade de comunicação. Respeitar as normas e, se não estiver de acordo com elas, propor ao grupo discuti-las e reformulá-las. Saber identificar quando o silêncio é bem-vindo, a fim de não desrespeitar o espaço do outro. Respeitar a hierarquia, mesmo quando você não gosta de seu chefe, pois, no trabalho, devemos ser objetivos, usar a razão, afastando muitas vezes o nosso lado emotivo, especialmente se esta postura ajuda a criar um clima de paz no grupo. Se você não está contente com seu chefe, mude de trabalho – me ensinou o saudoso amigo Jorge Bercht. Um bom profissional não é necessariamente um chefe exemplar. Por isso, não crie ilusões pensando que você ou seus colegas, sendo bons profissionais, poderiam ser melhores chefes que o seu; afinal, só a prática poderia provar se isso é verdade ou não.
Patrícia R.T. Horta, em sua tese de doutorado (Faculdade de Educação/USP), quando fala sobre a “pluralidade das verdades ao se buscar entender a realidade”, afirma: “Neste contexto, caberia o difícil exercício de estar com os outros compartilhando fragilidades e inseguranças no lugar de sólidas verdades.” A diversidade de pontos de vista nos leva a entender melhor o mundo, a repensá-lo em sua complexidade, valorizando a tolerância e a paz em todos os âmbitos: em casa, na rua e no trabalho, em nível local, regional, nacional e mundial.
A artista plástica Polly D’Avila, no blog “Tabacaria”* (6/08/2014), nos alerta: “a rotina fatigou os corações humanos. Captar a essência de outrem pode ser um sinal de generosidade. É uma lâmina imaginária que retira aspectos da alma. Um ir em direção ao outro.” Diz um antigo provérbio africano: “Se quer ir rápido, vá sozinho; se quer ir longe, vá acompanhado.”
Agradecimentos à professora Laura Ferreira, por sua leitura e comentários.
* http://sidneif.wordpress.com/



GRANDO, Cristiane. “Trabalhar em grupo”. Fique em Evidência. Ed. 50, Ano 4. Cerquilho, setembro de 2014, p.32. 

domingo, 17 de agosto de 2014

Direitos Humanos na Educação, no Trabalho e na Cultura


Direitos Humanos na Educação, no Trabalho e na Cultura

Cristiane Grando
Escritora, tradutora, doutora em Letras (USP) e docente na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis...” - Declaração Universal dos Direitos Humanos


A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais, segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948 - que pode ser lida na íntegra em <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social, terão o direito à instrução gratuita, pelo menos nos graus elementares (obrigatória) e fundamentais. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução de seus filhos.
A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais, promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz mundial.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos proclama, entre outros temas: o direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho; o direito, sem qualquer distinção, a igual remuneração por igual trabalho; o direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses; o direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas; o direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.
Na área cultural, a Declaração Universal dos Direitos Humanos defende o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios; o direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.
No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.
As ideias do político uruguaio Raúl Sendic nos estimulam a pensar em propostas de soluções diárias que beneficiem a sociedade ao valorizar os Direitos Humanos: “...a solidariedade não se dá somente em relação às gerações contemporâneas, mas também às que sucederão. Isto se vê não só nos casos heroicos, mas também no ancião que planta uma árvore que sabe que não vai ver. E com certeza no combatente que dá sua vida por uma sociedade que sabe que não vai chegar a desfrutar.” (“Rufo: 16/03/1925-28/04/1989 – Sendic a 25 años de su desaparición física, una relectura de sus ideas”. Montevidéu: Frente Juvenil MLN-T, 2014, p.9).
Com nossas atitudes e cobrança do poder público e dos políticos em quem votamos, fortalecemos na prática o respeito aos direitos humanos.



GRANDO, Cristiane. “Direitos Humanos na Educação, no Trabalho e na Cultura”. Fique em Evidência. Ed. 49, Ano 4. Cerquilho, agosto de 2014, p.32.

sábado, 5 de julio de 2014

Educação em Direitos Humanos


Educação em Direitos Humanos

Texto: Cristiane Grando
Escritora e tradutora. Doutora em Letras (USP), com pós-doutorado em Tradução Literária (Unicamp).


"Toda anistia tem o conceito de perdoar crimes políticos... tortura, estupro, desaparecimento forçado, não dá para dizer que isso é crime político. O que esses agentes fizeram são crimes contra os direitos humanos, imprescritíveis. Tortura não se anistia. É crime de lesa-humanidade." - Wadih Damous, advogado (OAB-RJ)


Com tratamento transversal e permeando todo o currículo, um dos temas tratados nas escolas brasileiras é a Educação em Direitos Humanos, descrito no Decreto nº 7.037/2009, que institui o Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH 3, cujo texto, na íntegra, pode ser lido em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D7037.htm>. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948, defende, direta ou indiretamente, a diversidade, os direitos das minorias, da criança e do adolescente, da mulher, os direitos indígenas, entre outros; enfim, trata-se do reconhecimento da dignidade inerente a todos, dos direitos iguais e inalienáveis como fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo através do ensino e da educação que promovam o respeito a esses direitos e liberdades.
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.” - Artigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que proclama o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição; o direito a uma nacionalidade; o direito de contrair matrimônio e de fundar uma família, ao ter maioridade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião; o direito à propriedade, só ou em sociedade; o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião (inclusive a liberdade de mudar de religião ou crença); o direito à liberdade de opinião e expressão (inclusive a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras); o direito à liberdade de reunião e associação pacíficas; o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos; o direito igual de acesso ao serviço público do seu país; o direito a expressar a vontade do povo em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto; o direito à segurança social e à realização dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade; a abolição da tortura, do castigo cruel, desumano ou degradante; a igual proteção da lei (a audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial; o direito de um acusado de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei); a não interferência na vida privada, na família, no lar ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação; o direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.
Considerando que o desprezo e o desrespeito aos direitos humanos resultaram em atos bárbaros, em especial durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), vale ressaltar a importância histórica da criação, em 1995, da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM), uma das 21 comissões permanentes da Câmara dos Deputados, uma conquista legislativa para proteger o cidadão. Com nossas atitudes e cobrança do poder público e dos políticos em quem votamos, fortalecemos na prática o respeito aos direitos humanos.

Sugestão de leitura: Declaração Universal dos Direitos Humanos <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>.

GRANDO, Cristiane. “Educação em Direitos Humanos”. Fique em Evidência. Ed. 48, Ano 3. Cerquilho, julho de 2014, p.32.




jueves, 5 de junio de 2014

Educação para o trânsito



Educação para o trânsito

Texto: Cristiane Grando. Escritora e tradutora. Doutora em Letras (USP), com pós-doutorado em Tradução Literária (Unicamp).

Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga.” - Art. 1, §1 do Código de Trânsito Brasileiro


O trânsito em condições seguras é um direito de todos e assegurá-lo é um dever dos órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito. Todo cidadão, como motorista ou pedestre, deveria exigir o exercício do trânsito seguro, agindo em prol da eficiência com segurança para todos e sendo responsável em suas atitudes. O motorista responsável é aquele que se preocupa com o bem-estar dos seres humanos que leva em seu veículo e com os quais cruza em seu caminho. É nossa responsabilidade como cidadãos conscientes também controlar o nível de emissão de poluentes e ruídos produzidos pelos veículos que possuímos e/ou utilizamos.
Segundo o Art. 74 do Código de Trânsito Brasileiro: “A educação para o trânsito é direito de todos e constitui dever prioritário para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito.” Com tratamento transversal e permeando todo o currículo, um dos temas tratados nas escolas brasileiras é a Educação para o Trânsito, obrigação descrita na Lei nº 9.503/97, que institui o Código de Trânsito Brasileiro, texto que pode ser lido na íntegra em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503.htm>. O Art. 76 estabelece que “A educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação.”
Como ideias para melhorar o trânsito e ao mesmo tempo colaborar para a preservação do meio ambiente e da boa saúde, apresentamos o exemplo de muitas cidades da Europa que oferecem serviços de aluguel de bicicleta em vários bairros. A criação de ciclovias também é uma ação de política pública que incentiva o uso de meios de transportes não-poluentes.
Muitas pessoas que têm carros optam por usar bicicletas para a locomoção, o que contribui para a boa saúde e para a economia de recursos ambientais e pessoais. Sempre que podemos caminhar, inclusive para resolver tarefas do cotidiano, teremos a ocasião de, além de não poluir o ambiente, melhorar nossa saúde e a do nosso bolso.
Em um país com uma forte cultura do automóvel como o Brasil, é difícil imaginar que haja mais bicicletas elétricas do que carros em algum lugar. Mas é o caso da China, gigante que frequentemente surpreende o resto do mundo com suas iniciativas, cultura e tendências.” <http://www.projetoresponsabilidade.com.br/blog/china-tem-mais-bicicletas-el%C3%A9tricas-do-que-carros>. No texto “China tem mais bicicletas elétricas do que carros”, de 26/08/2013, afirma-se que esse país tem uma forte e antiga cultura da bicicleta como meio de transporte e que as bicicletas elétricas são atrativas por conta da tecnologia, que tende a melhorar, e pelo preço, se comparado com os de outros veículos. A principal vantagem das bikes elétricas é facilitar deslocamentos longos e ajudar o ciclista a superar dificuldades com o relevo de sua cidade.
Lutemos por uma sociedade mais justa, que respeita o ser humano e o meio ambiente: no trânsito e em todos os aspectos da vida cotidiana.


GRANDO, Cristiane. “Educação para o trânsito”. Fique em Evidência. Ed. 47, Ano 3. Cerquilho, junho de 2014, p.30

martes, 6 de mayo de 2014

Educação ambiental




GRANDO, Cristiane. “Educação ambiental”. Fique em Evidência. Ed. 46, Ano 3. Cerquilho, maio de 2014, p.30.

Educação ambiental

Texto: Cristiane Grando. Escritora e tradutora. Doutora em Letras (USP), com pós-doutorado em Tradução Literária (Unicamp).

Berenice Gehlen Adams ressalta a necessidade de uma maior divulgação da Lei Nº 9.795/99, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental em nosso país, bem como das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental

Com tratamento transversal, permeando todo o currículo, um dos temas a ser tratado nas escolas brasileiras hoje é a Educação Ambiental, obrigação descrita na Lei nº 9.795/99, que dispõe sobre a Política Nacional de Educação Ambiental, que pode ser lida em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Tema discutido por Berenice Gehlen Adams em seu artigo “A Importância da Lei 9.795/99 e das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Ambiental para Docentes” (ADAMS, v(10), nº 10, p. 2148 – 2157, out-dez 2012), a autora afirma que “sem o conhecimento destes documentos e de outros importantes documentos referência, a Educação Ambiental continuará a ser trabalhada de forma estanque, fragmentada, limitada a comemorações de datas como Dia da Água, Dia da Terra, Dia do Índio, Dia do Meio Ambiente, e limitada a temas como a separação de lixo, desastres ambientais e temáticas catastróficas, - que mais assustam do que educam - para o despertar de uma consciência ambiental.” Essas celebrações, segundo Naná Mininni Medina, citada por Adams, são importantes, mas “não suficientes, para desenvolver conhecimentos e valores” que permitam uma real compreensão desta questão e uma consequente mudança na forma de agir no cotidiano em busca de um mundo sustentável.

Adams sugere a promoção de minicursos para professores de todas as escolas e de diferentes níveis do ensino para vivenciarem estes importantes documentos que legitimam a Educação Ambiental no Brasil, com enfoque em uma análise crítica, para que possam auxiliar na perpetuação de ações que possibilitem a prática da Educação Ambiental de forma articulada, interdisciplinar, criando uma sociedade na qual, segundo Medina, “a conservação e a adequada utilização dos recursos naturais deve ter como objetivos a melhoria da qualidade de vida e a eliminação da pobreza extrema e do consumismo desenfreado”. Neste sentido, Adams afirma que se trata de ver a Educação Ambiental como um processo, que deve estar implícito em todas as ações educativas, promovendo a compreensão crítica e global, elucidando valores como a alteridade, a equidade, estimulando a participação, promovendo a cidadania e a consciência ambiental, com vistas a alterar costumes e posturas que priorizam o consumismo e o desenvolvimento econômico.

Citando o Artigo 14 das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Ambiental, que pode ser lida na íntegra em <http://conferenciainfanto.mec.gov.br/images/pdf/diretrizes.pdf>, Adams afirma que “a Educação Ambiental deve contemplar uma abordagem curricular que enfoque a natureza como fonte de vida e relacione ambiente e justiça social, associando a direitos humanos, saúde, trabalho, consumo, vinculados a pluralidade étnica, racial, de gênero, de diversidade sexual, e à superação do racismo, discriminação e injustiça social”.

Como contribuição poética ao processo de conscientização dos valores difundidos em Educação Ambiental, ofereço versos do livro que estou escrevendo agora, “Arvoressências”: o pessegueiro era uma ideia/ da árvore sendo casa// nossa casinha de infância/ os seus galhos/ as folhas-tijolos/ que nos protegiam do vento/ do sol, do calor intenso// os espaços entre as folhas/ eram as janelas da nossa casa:/ nossos olhos e alma (poema “a árvore da minha infância”). 

domingo, 13 de abril de 2014

Respeito e valorização do idoso



GRANDO, Cristiane. “Respeito e valorização do idoso”. Fique em Evidência. Ed. 45, Ano 3. Cerquilho, abril de 2014, p.30.
Respeito e valorização do idoso

Texto: Cristiane Grando. Escritora e tradutora. Doutora em Letras (USP), com pós-doutorado em Tradução Literária (Unicamp).

Segundo Aluízio Falcão, “Rembrandt passava dos 60 quando pintou seus quadros mais importantes. As obras de Bach ao envelhecer foram classificadas entre as mais belas e Beethoven superou a si mesmo nos derradeiros quartetos.” (O Estado de S. Paulo, 2006)

Por que decaiu a arte de contar histórias? Talvez porque tenha decaído a arte de trocar experiências” - afirma Ecléa Bosi. Eu diria que tem decaído também a arte de saber ouvir. Basta observar o ambiente escolar, com estudantes pouco interessados, o ambiente doméstico, onde a maioria das pessoas vive hipnotizada em programas televisivos, jogos eletrônicos ou Internet, e os ambientes públicos, onde crianças e adultos não desviam o olhar dos seus celulares. Em outras palavras, vivemos num mundo de solidões. Na contramão, o saber ouvir o idoso tem sido cada dia mais valorizado na sociedade brasileira. Prova disso é o processo de envelhecimento, o respeito e a valorização do idoso como tema transversal das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, publicadas pelo Ministério da Educação em 2012.

Na década de 1980, uma pessoa de 50 anos ou até menos se considerava velha, o que se notava em sua forma de se vestir e se comportar. Naquela época, a palavra velho(a) não carregava conotação negativa: assumiam a velhice como algo natural. As fotos dessa década mostram pessoas com aspecto de velhas relativamente cedo. Atualmente muitos não abandonam o trabalho nem mesmo depois de aposentados e buscam estar atualizados, em especial na área tecnológica, independente da idade. Hoje o termo velho(a) assumiu conotação depreciativa: preferimos falar idoso(a), 3a idade, maturidade ou inclusive eliminar termos que marquem a passagem do tempo, afinal, a medicina (cirurgia plástica, medicamentos e complementos alimentares), a alimentação (quando equilibrada), o modo de se vestir, as atividades esportivas e das academias nos favorecem: não demonstramos a idade que temos.

Mais importante que os termos é a postura de respeito que se toma diante do outro, seja criança, mulher ou velho, “três instâncias privilegiadas das crueldades” no mundo ocidental segundo João Alexandre Barbosa no “Prefácio” do livro Memória e sociedade: lembranças de velhos de Ecléa Bosi. Igualmente, posturas de respeito às minorias e marginalizados têm sido cada dia mais valorizadas por programas governamentais no Brasil, o que, a médio e longo prazo, esperamos ver refletidas em nosso cotidiano.

No caso dos idosos, o respeito por suas experiências, maturidade e sabedoria é algo que se pode cultivar ao saber ouvi-los, pois eles têm algo a nos ensinar: a história de um país, cidade ou bairro. De acordo com Marcos Piason Natali no livro “A política da nostalgia”, no século XIX, “a memória já era vista como parte essencial de uma vida saudável e já era considerada necessária para a construção de identidades individuais e coletivas.” Saudável também é cultivar bons relacionamentos entre as gerações e ter consciência do saldo positivo dessa atitude na educação familiar e escolar: valorizar os conhecimentos transmitidos pela oralidade, pela memória individual e coletiva que resgata valores culturais e históricos, carregada de sentimentos e vivências de quem foi protagonista de uma época. Afirma Ecléa Bosi: “Um mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que não conhecemos pode chegar-nos pela memória dos velhos.”

Recomendações de leitura: Lei nº 10.741/2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos; Memória e sociedade: lembranças de velhos de Ecléa Bosi; O tempo da memória de Norberto Bobbio; A velhice de Simone de Beauvoir.

jueves, 6 de marzo de 2014

O sentido da medida



O sentido da medida
Cristiane Grando
Escritora e tradutora. Doutora em Letras (USP), com pós-doutorado em Tradução Literária (Unicamp).


Sonia Hirsch, jornalista e escritora voltada para a promoção da saúde, que escreve como quem cozinha e cozinha como quem escreve, afirma que as melhores coisas da vida são simples: sol da manhã, paisagens verdes, céu muito azul... e que as melhores comidas da vida também são simples. E continua: A boa comida também remete com frequência a um ingrediente que não consta da receita. Aos elogios, quem a fez responde: 'Fiz com amor.' Soa como um segredo daquela mão, daquele coração, que ao dosar o sal e o azeite tem uma consciência aguda de sua própria medida.” (“Meditando na cozinha”. Rio de Janeiro: Corre Cotia)
Dona Benta: comer bem”, livro tradicional da culinária brasileira ensina: O destino das nações depende da maneira de alimentar do seu povo.” - segundo Brillat-Savarin. O ato de comer exerce em nossa vida um papel não só coletivo, mas também individual; é uma atitude cotidiana que muitas vezes realizamos com o piloto automático ligado, distraídos, sem sentir o sabor, sem exercitar os cinco sentidos. Segundo Sonia Hirsch: “Comer é pessoal e intransferível. Junta no prato história de vida, influência familiar, referências culturais, situação econômica, desejos inconscientes e sabe-se lá que temperos. […] No fim das contas, comer é alimentar-se, mas também aprender quem se é.”
Importante é ser comedido - que é uma virtude da prudência, da moderação e do respeito, a si mesmo e ao planeta. Ser comedido ao comer e intuir a medida exata ao cozinhar - como a palavra justa ao escrever, “le mot juste” em francês - são duas formas de viver em estado meditativo, concentrado no presente. Concentrado em seu corpo - se necessita de alimentação ou se estamos comendo por compulsão, o que só se consegue identificar se exercitamos com frequência o autoconhecimento - e concentrado no presente, ao decidir quais atitudes e medidas tomar ao preparar um prato, o que nos permite exercitar a observação do que acontece exteriormente e não apenas do que vivemos em nosso mundo interior. Nos versos de “o maître e o poeta”, publicados na revista número 32 da Fundação Biblioteca Nacional, “Poesia Sempre”, comparo o ato de escrever com o de preparar um bom prato: “escolher palavras/ como quem sabe/ a quantidade exata de sons/ e o modo de preparar a massa// o tempo aproximado de misturá-los/ até encontrar o ponto// como quem intui e conhece/ o jeito de mexer/ o ritmo que os ingredientes exigem das mãos/ e o olhar amoroso// a entrega tão necessária/ para que poucas palavras/ sejam poesia”. Saber escolher e medir sons, ingredientes, tempo, ritmo... e misturá-los ao amor e à entrega, que sempre é um ato amoroso.
Sobre o valor da pausa na alimentação, ou seja, o jejum, Sonia Hirsch alerta: “'O que o jejum não cura, nada cura', diz um velho provérbio alemão.” E continua dizendo que até mesmo jejuns de poucas horas entre as refeições são importantes porque dão tempo de completar a digestão e de esvaziar o estômago antes de comer novamente; que o jejum da noite é fundamental e se for de 12 horas permite que o organismo se refaça e se autodesintoxique. Hirsch aconselha que bebamos muita água fresca de manhã, bebericada aos golinhos e, para os que apreciam, que bebamos chás. Eu aconselharia: beber chá sem açúcar, o que aprendi no Chile. Sente-se melhor, assim, o seu sabor. Adoçar café e chá significa tomar boa quantidade de açúcar ao dia.
A abstinência ou privação não deixa de ser um exercício que nos ensina a valorizar o que temos. O que anuncio no início do meu livro “Fluxus”: “às vezes/ é bom sentir fome/ para só depois morrer/ de saudade”.



GRANDO, Cristiane. “O sentido da medida”. Fique em Evidência. Ed. 44, Ano 3. Cerquilho, março de 2014, p.30.