O riso
Cristiane Grando
Escritora,
tradutora, doutora em Letras (USP) e docente na Universidade Federal
da Integração Latino-Americana (UNILA)
“Meu
erro [...] devia ser o caminho de uma verdade: pois só quando erro é
que saio do que conheço e do que entendo. Se a ‘verdade’ fosse
aquilo que posso entender – terminaria sendo uma verdade pequena,
do meu tamanho.”
Clarice Lispector
“A primeira coisa a fazer pela
manhã é sorrir! E continuar assim.” Desta maneira inicia Jane
Seabrook o seu livro “Você é diferente” (São
Paulo, Editora Fundamento Educacional, 2008). Entre sorrir e rir,
basta um passo.
Quando rimos, além
de relaxar os músculos, nos presenteamos com a possibilidade de
vivenciar uma “catarse”. O Dicionário
eletrônico Houaiss da língua portuguesa
apresenta
algumas definições que podem nos ajudar a entendê-la: “purificação
do espírito do espectador [de teatro, por exemplo] através da
purgação de suas paixões, especialmente dos sentimentos de terror
ou de piedade vivenciados na contemplação do espetáculo trágico”;
“liberação de emoções ou tensões reprimidas”; “efeito
liberador produzido pela encenação de certas ações, especialmente
as que fazem apelo ao medo e à raiva”.
Na
Grécia antiga, os concursos dramáticos anuais começaram
contemplando apenas as peças “sérias”, as tragédias; só em
487 a.C. ocorreu o primeiro concurso de peças cômicas, que eram
consideradas um gênero menor. Podemos entrar em catarse através do
riso, que nos ajuda a melhorar o nosso estado de ânimo, amenizando
os sofrimentos. Um bom trabalho nesta linha, no universo hospitalar,
é o dos “Hospitalhaços”,
ONG com mais de 400 palhaços voluntários no Brasil, que atua em
Cerquilho desde 2013. Segundo
a terapeuta corporal Deise Castro da Silva,
por onde esses palhaços passam, deixam “um rastro de felicidade”.
Tentando
ser engraçados, algumas vezes e sem querer (é lógico), cometemos
gafes. Vale lembrar o que afirma Claudia Matarazzo: “uma gafe não
é o fim do mundo, e é claro que dá para sobreviver. Com humor e
muita presença de espírito é até possível contornar uma gafe
quase fatal.” (“Gafe não é pecado”. São Paulo,
Melhoramentos, 1996). Lembre-se: “Ninguém
está prestando atenção; até o momento em que você comete um
erro.” - afirma Jane Seabrook. Por isso, em casos de tensão, ria
de si mesmo! Ria por dentro. Ria sempre que possível. Rindo nos
concentramos no presente: no aqui e agora. A própria palavra
"presente" diz tudo: é um "presente".
Um bom começo para
sair da tristeza é posicionar os lábios em forma de sorriso – até
nos casos em que o nosso interior não encontra motivos para sorrir,
quando estamos chateados, amargurados ou tristes. O cérebro
identifica estados de alegria quando nossos músculos faciais estão
em forma de (sor)riso. Sorrindo, ficamos mais relaxados; e a vida,
mais leve. Como cantam Tom Jobim e Vinicius de Moraes “A
Felicidade”: “Tristeza não tem fim/ Felicidade sim// A
felicidade é como a pluma/ Que o vento vai levando pelo ar/ Voa tão
leve/ Mas tem a vida breve/ Precisa que haja vento sem parar”. O
riso, a poesia e a música podem dar à vida um toque
de leveza... e de felicidade. Por que não?
GRANDO,
Cristiane. “O
riso”.
Fique em Evidência.
Ed. 51, Ano 4.
Cerquilho, outubro de 2014,
p.32.
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