lunes, 27 de octubre de 2014

O riso

O riso
Cristiane Grando
Escritora, tradutora, doutora em Letras (USP) e docente na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

Meu erro [...] devia ser o caminho de uma verdade: pois só quando erro é que saio do que conheço e do que entendo. Se a ‘verdade’ fosse aquilo que posso entender – terminaria sendo uma verdade pequena, do meu tamanho.”
Clarice Lispector

A primeira coisa a fazer pela manhã é sorrir! E continuar assim.” Desta maneira inicia Jane Seabrook o seu livro “Você é diferente” (São Paulo, Editora Fundamento Educacional, 2008). Entre sorrir e rir, basta um passo.

Quando rimos, além de relaxar os músculos, nos presenteamos com a possibilidade de vivenciar uma “catarse”. O Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa apresenta algumas definições que podem nos ajudar a entendê-la: “purificação do espírito do espectador [de teatro, por exemplo] através da purgação de suas paixões, especialmente dos sentimentos de terror ou de piedade vivenciados na contemplação do espetáculo trágico”; “liberação de emoções ou tensões reprimidas”; “efeito liberador produzido pela encenação de certas ações, especialmente as que fazem apelo ao medo e à raiva”.

Na Grécia antiga, os concursos dramáticos anuais começaram contemplando apenas as peças “sérias”, as tragédias; só em 487 a.C. ocorreu o primeiro concurso de peças cômicas, que eram consideradas um gênero menor. Podemos entrar em catarse através do riso, que nos ajuda a melhorar o nosso estado de ânimo, amenizando os sofrimentos. Um bom trabalho nesta linha, no universo hospitalar, é o dos “Hospitalhaços”, ONG com mais de 400 palhaços voluntários no Brasil, que atua em Cerquilho desde 2013. Segundo a terapeuta corporal Deise Castro da Silva, por onde esses palhaços passam, deixam “um rastro de felicidade”.

Tentando ser engraçados, algumas vezes e sem querer (é lógico), cometemos gafes. Vale lembrar o que afirma Claudia Matarazzo: “uma gafe não é o fim do mundo, e é claro que dá para sobreviver. Com humor e muita presença de espírito é até possível contornar uma gafe quase fatal.” (“Gafe não é pecado”. São Paulo, Melhoramentos, 1996). Lembre-se: “Ninguém está prestando atenção; até o momento em que você comete um erro.” - afirma Jane Seabrook. Por isso, em casos de tensão, ria de si mesmo! Ria por dentro. Ria sempre que possível. Rindo nos concentramos no presente: no aqui e agora. A própria palavra "presente" diz tudo: é um "presente".

Um bom começo para sair da tristeza é posicionar os lábios em forma de sorriso – até nos casos em que o nosso interior não encontra motivos para sorrir, quando estamos chateados, amargurados ou tristes. O cérebro identifica estados de alegria quando nossos músculos faciais estão em forma de (sor)riso. Sorrindo, ficamos mais relaxados; e a vida, mais leve. Como cantam Tom Jobim e Vinicius de Moraes “A Felicidade”: “Tristeza não tem fim/ Felicidade sim// A felicidade é como a pluma/ Que o vento vai levando pelo ar/ Voa tão leve/ Mas tem a vida breve/ Precisa que haja vento sem parar”. O riso, a poesia e a música podem dar à vida um toque de leveza... e de felicidade. Por que não?


GRANDO, Cristiane. “O riso”. Fique em Evidência. Ed. 51, Ano 4. Cerquilho, outubro de 2014, p.32

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