lunes, 9 de diciembre de 2013

Plágio é crime



Plágio é crime
Cristiane Grando
Escritora e tradutora. Doutora em Letras (USP), com pós-doutorado em Tradução Literária (Unicamp). É Diretora do Teatro Municipal de Cerquilho.

Quem plagia demonstra querer ser vencedor a qualquer preço. Desrespeitando os direitos autorais, ou seja, a criação intelectual alheia, quem se apropria de um texto ou obra de qualquer natureza, completo ou em partes, sem citar os créditos do autor, comete um crime. No Brasil, roubar ideias pode gerar punição, de acordo com o Código Penal, com detenção de 3 meses a 4 anos, ou multa.
Considerando que temos visto vários casos de plágio em concursos, seria bom retomar certos valores ao dialogar com as crianças, adolescentes e jovens, tais como a importância de elaborar um trabalho próprio valorizando o aprendizado constante, independente de que se atinja o ápice - ser o melhor ou um dos melhores -, se comparado com o trabalho de outros. Mais importante que ganhar ou ser o melhor: é participar de atividades ou concursos; é enfatizar a importância de aprender durante o desenvolvimento de um trabalho; é aplaudir aqueles que ganham por mérito; é sentir prazer durante os processos de criação; é ganhar tendo a certeza de que o trabalho é da criança/jovem e não copiado de livro(s), da Internet, ou até mesmo feito, inteiro ou em parte, pelos pais ou por outras pessoas. Educar para que sejam respeitadas as ideias alheias forma a base da educação que uma criança carregará pelo resto de sua vida.
Como pais e professores, no processo de ensino-aprendizagem (pois ensinamos e aprendemos ao mesmo tempo, tanto os professores quanto os estudantes), é necessário repetir pontos-de-vista e exemplos – inclusive ser bons exemplos -, pois a aprendizagem se dá na maioria das vezes pela repetição. Repetir sob uma mesma ótica ou com exemplos variados, mas com o objetivo a ser atingido sempre em mente: buscar mais informações, ler e ensinar sobre um ponto específico. Neste texto, por exemplo, o objetivo é discutir a questão do plágio. Tentemos entender como nossa sociedade é manipulada pelos desejos, para compreender as raízes desse e de vários problemas sociais. Atualmente, os desejos se vinculam muito mais ao ter do que ao ser. Ter não só objetos materiais, mas também reconhecimento, o que pode gerar a tentação de plagiar, ou seja, de demonstrar ser o que realmente não se é.
Discutir e repensar muitas das ideias que as crianças assimilam nas várias horas que passam em frente da televisão diariamente é nossa obrigação como educadores. Ajudá-las a desenvolver um pensamento crítico diante do que a sociedade nos oferece é uma tarefa que precisa ser aprendida desde cedo, principalmente se considerarmos que somos bombardeados com apelos de consumo, muitas vezes de objetos e serviços desnecessários ou até prejudiciais à saúde do corpo e do espírito.
De acordo com a sabedoria milenar de Epicuro (341 a.C. - 270 a.C.), em sua “Carta sobre a Felicidade (a Meneceu)”, traduzida por Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore e publicada em 2002 pela Editora UNESP: “... o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, [...] para nos afastarmos da dor e do medo.”
Quem é sábio sabe recusar o plágio, para o bem-estar do seu espírito, da sociedade e dos que vivem ao seu redor.


GRANDO, Cristiane. “Plágio é crime”. Fique em Evidência. Ed. 41, Ano 2. Cerquilho, dezembro de 2013, p.28.