viernes, 21 de febrero de 2014

Educação alimentar



Educação alimentar
Cristiane Grando
Escritora e tradutora. Doutora em Letras (USP), com pós-doutorado em Tradução Literária (Unicamp).

Todas as vezes que comemos, deveríamos nos lembrar que várias pessoas tiveram o trabalho de plantar e colher, transportar os alimentos, vendê-los e em especial prepará-los. É um longo caminho desde a semente plantada até chegar à nossa mesa. Tendo essa consciência, o respeito pela comida deveria ser evocado todas as vezes que comemos. E mais: ter a consciência de que deveríamos, em prol da nossa saúde, mastigar mais vezes antes de engolir. Em muitos casos, observar se queremos saciar nossa fome física ou se estamos tapando buracos, ou seja, disfarçando o sono atrasado, a timidez, os problemas ou a ansiedade através do excesso de comida ou bebida. Basta ver se estamos com sobrepeso e então valeria a pena prestar um pouco mais de atenção à nossa alimentação diária. Para estes casos, seguem algumas dicas. Comer em pequenas quantidades, apreciando a comida com os cinco sentidos: observar os alimentos, o prato, a mesa, o ambiente; sentir a textura do que se mastiga ao tocar a língua e, às vezes, tomar nas mãos o que vai comer, sentindo seu volume e textura; ouvir os sons ao redor, procurando criar um ambiente de harmonia, paz e silêncio na hora de comer; prestar atenção no olfato, que é indissociável do paladar. O paladar é apenas um dos nossos sentidos; infelizmente, ao comer, nos esquecemos disso.
Se comemos cinco vezes ao dia, nosso organismo não estará desesperado de fome; a tendência é comer menos e que o corpo não absorva excessos. Quando passamos fome, tudo o que ingerimos é absorvido em grande quantidade, como uma esponja seca ao receber água; da mesma forma, ao acordar, nosso corpo funciona como uma esponja enxuta pois ficou muitas horas sem receber alimentos. Por isso é importante que o café da manhã seja saudável, evitando gorduras, doces, açúcares!
Importante é “comer para viver e não viver para comer” como diz a sabedoria popular. Saciar nossa fome e sede. Se vamos além dessa necessidade, a chance de ganhar peso é grande. Deveríamos ter o cuidado de não comer nem beber demais, em especial porque vivemos num mundo consumista que nos oferece tanta publicidade que nos incentiva a abrir a geladeira a cada instante; muitas das propagandas são enganosas, vinculando produtos com imagens paradisíacas ou com apelo ao erotismo. Os que têm indigestões ou se embriagam não sabem comer nem beber; são os delinquentes da mesa.”, segundo Brillat-Savarin citado no livro “Dona Benta: comer bem”, livro tradicional da culinária brasileira.
De acordo com Isabel Allende, em “Afrodita: cuentos, recetas y outros afrodisíacos”: Todos os povos, inclusive aqueles que por razões religiosas o proíbem, conhecem as propriedades medicinais do álcool. Antes de que se conhecessem outros antissépticos ou que se desenvolvesse a anestesia, se usavam bebidas alcoólicas para desinfetar feridas e para aturdir os pacientes ao fazer uma intervenção dolorosa. O seu pior defeito é que, convertido em vício, destrói quem o bebe, e a sua maior virtude é que em quantidade moderada produz ilusão de felicidade e levanta o ânimo para festejar.
Acabamos de sair de um período de festas e muitas pessoas reclamam que engordaram na passagem do ano. Não seria o caso de nos reeducarmos e de repensar como vai a nossa relação com o que comemos e bebemos? Como digo nos versos do meu livro “Titã”: “somos exatamente/ o que comemos/ e pensamos”.


GRANDO, Cristiane. “Educação alimentar”. Fique em Evidência. Ed. 43, Ano 3. Cerquilho, fevereiro de 2014, p.30.