Educação alimentar
Cristiane
Grando
Escritora e tradutora.
Doutora em Letras (USP), com pós-doutorado em Tradução Literária
(Unicamp).
Todas as vezes que
comemos, deveríamos nos lembrar que várias pessoas tiveram o
trabalho de plantar e colher, transportar os alimentos, vendê-los e
em especial prepará-los. É um longo caminho desde a semente
plantada até chegar à nossa mesa. Tendo essa consciência, o
respeito pela comida deveria ser evocado todas as vezes que comemos.
E mais: ter a consciência de que deveríamos, em prol da nossa
saúde, mastigar mais vezes antes de engolir. Em muitos casos,
observar se queremos saciar nossa fome física ou se estamos tapando
buracos, ou seja, disfarçando o sono atrasado, a timidez, os
problemas ou a ansiedade através do excesso de comida ou bebida.
Basta ver se estamos com sobrepeso e então valeria a pena prestar um
pouco mais de atenção à nossa alimentação diária. Para estes
casos, seguem algumas dicas. Comer em pequenas quantidades,
apreciando a comida com os cinco sentidos: observar os alimentos, o
prato, a mesa, o ambiente; sentir a textura do que se mastiga ao
tocar a língua e, às vezes, tomar nas mãos o que vai comer,
sentindo seu volume e textura; ouvir os sons ao redor, procurando
criar um ambiente de harmonia, paz e silêncio na hora de comer;
prestar atenção no olfato, que é indissociável do paladar. O
paladar é apenas um dos nossos sentidos; infelizmente, ao comer, nos
esquecemos disso.
Se comemos cinco
vezes ao dia, nosso organismo não estará desesperado de fome; a
tendência é comer menos e que o corpo não absorva excessos. Quando
passamos fome, tudo o que ingerimos é absorvido em grande
quantidade, como uma esponja seca ao receber água; da mesma forma,
ao acordar, nosso corpo funciona como uma esponja enxuta pois ficou
muitas horas sem receber alimentos. Por isso é importante que o café
da manhã seja saudável, evitando gorduras, doces, açúcares!
Importante
é “comer para viver e não viver para comer” como diz a
sabedoria popular. Saciar nossa fome e sede. Se vamos além dessa
necessidade, a chance de ganhar peso é grande. Deveríamos ter o
cuidado de não comer nem beber demais, em especial porque vivemos
num mundo consumista que nos oferece tanta publicidade que nos
incentiva a abrir a geladeira a cada instante; muitas das propagandas
são enganosas, vinculando produtos com imagens paradisíacas ou com
apelo ao erotismo. “Os
que têm indigestões ou se embriagam não sabem comer nem beber; são
os delinquentes da mesa.”, segundo Brillat-Savarin citado no livro
“Dona Benta: comer bem”,
livro tradicional da culinária brasileira.
De
acordo com Isabel Allende, em “Afrodita:
cuentos, recetas y outros afrodisíacos”: “Todos
os povos, inclusive aqueles que por razões religiosas o proíbem,
conhecem as propriedades medicinais do álcool. Antes de que se
conhecessem outros antissépticos ou que se desenvolvesse a
anestesia, se usavam bebidas alcoólicas para desinfetar feridas e
para aturdir os pacientes ao fazer uma intervenção dolorosa. O seu
pior defeito é que, convertido em vício, destrói quem o bebe, e a
sua maior virtude é que em quantidade moderada produz ilusão de
felicidade e levanta o ânimo para
festejar.”
Acabamos
de sair de um período de festas e muitas pessoas reclamam que
engordaram na passagem do ano. Não seria o caso de nos reeducarmos e
de repensar como vai a nossa relação com o que comemos e bebemos?
Como digo nos versos do meu livro “Titã”: “somos exatamente/ o
que comemos/ e pensamos”.
GRANDO,
Cristiane. “Educação
alimentar”.
Fique em Evidência.
Ed. 43, Ano 3. Cerquilho, fevereiro de 2014,
p.30.