jueves, 11 de septiembre de 2014

Trabalhar em grupo

Trabalhar em grupo
Cristiane Grando
Escritora, tradutora, doutora em Letras (USP) e docente na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
"Viver é trabalhar em equipe, o tempo todo. Portanto, quanto mais rápido tivermos consciência disto, melhor!" - Clorinda Sagala Denck em seu livro “Corrente de balões”
A vida em sociedade e os trabalhos em grupo se sustentam em certos pilares se queremos alcançar bons resultados e criar ambientes pacíficos. Um deles é o “diálogo”: a interação entre duas ou mais pessoas. Para que haja realmente diálogo, é essencial “aprender a ouvir”: saber se colocar no lugar do outro a fim de entender seus pontos de vista, seu posicionamento, sua forma de ver e de sentir o mundo - primeiro passo para que aconteça uma boa comunicação. Na atualidade, abandonamos a prática de ouvir e de dedicar atenção ao outro, assim como a calma, o silêncio, os momentos únicos de estar alguns minutos sozinhos para pensar, ler um poema, ouvir música. A correria do dia a dia e o desrespeito consigo e com o outro têm se refletido em atos violentos na sociedade, na escola, na família. Um pouco além do “aprender a ouvir” é quando estamos abertos a críticas. Às vezes, aprendemos muito sobre nós mesmos se ouvimos com a mente aberta comentários alheios: o que podemos melhorar no trabalho ou no relacionamento com familiares e amigos, por exemplo. Ao criticar alguém, o ideal é escolher com cuidado as palavras, a forma de encaminhar as questões e, de preferência, que seja um tema discutido a sós ou com um mínimo de pessoas. Nem todo mundo está preparado para receber críticas.
Ao participar da oficina de cantoLas sonoridades de la voz” em 2011 no Centro Cultural de España em São Domingos, aprendi sobre a importância de pensar em todos os membros do grupo sempre. O professor mexicano Juan Pablo Villa mostrou na prática, montando um coral, como o grupo era prejudicado se uma pessoa destacasse sua voz quando o objetivo era criar um som harmônico entre todos os participantes. Só era incentivado a se sobressair quem fosse convidado para ser solista. Estarmos atentos aos objetivos de um trabalho sem perder de vista o todo nos ajuda a identificar quais são as posturas que nos levam a um melhor desempenho e a construir relações humanas com qualidade.
Respeitar horários de reuniões e de trabalho é essencial. Confirmar presença ou informar a impossibilidade de participação em reuniões. Em casos de imprevisto, nunca deixar de avisar que haverá atraso ou falta, salvo se há impossibilidade de comunicação. Respeitar as normas e, se não estiver de acordo com elas, propor ao grupo discuti-las e reformulá-las. Saber identificar quando o silêncio é bem-vindo, a fim de não desrespeitar o espaço do outro. Respeitar a hierarquia, mesmo quando você não gosta de seu chefe, pois, no trabalho, devemos ser objetivos, usar a razão, afastando muitas vezes o nosso lado emotivo, especialmente se esta postura ajuda a criar um clima de paz no grupo. Se você não está contente com seu chefe, mude de trabalho – me ensinou o saudoso amigo Jorge Bercht. Um bom profissional não é necessariamente um chefe exemplar. Por isso, não crie ilusões pensando que você ou seus colegas, sendo bons profissionais, poderiam ser melhores chefes que o seu; afinal, só a prática poderia provar se isso é verdade ou não.
Patrícia R.T. Horta, em sua tese de doutorado (Faculdade de Educação/USP), quando fala sobre a “pluralidade das verdades ao se buscar entender a realidade”, afirma: “Neste contexto, caberia o difícil exercício de estar com os outros compartilhando fragilidades e inseguranças no lugar de sólidas verdades.” A diversidade de pontos de vista nos leva a entender melhor o mundo, a repensá-lo em sua complexidade, valorizando a tolerância e a paz em todos os âmbitos: em casa, na rua e no trabalho, em nível local, regional, nacional e mundial.
A artista plástica Polly D’Avila, no blog “Tabacaria”* (6/08/2014), nos alerta: “a rotina fatigou os corações humanos. Captar a essência de outrem pode ser um sinal de generosidade. É uma lâmina imaginária que retira aspectos da alma. Um ir em direção ao outro.” Diz um antigo provérbio africano: “Se quer ir rápido, vá sozinho; se quer ir longe, vá acompanhado.”
Agradecimentos à professora Laura Ferreira, por sua leitura e comentários.
* http://sidneif.wordpress.com/



GRANDO, Cristiane. “Trabalhar em grupo”. Fique em Evidência. Ed. 50, Ano 4. Cerquilho, setembro de 2014, p.32.