Trabalhar
em grupo
Cristiane Grando
Escritora,
tradutora, doutora em Letras (USP) e docente na Universidade Federal
da Integração Latino-Americana (UNILA)
"Viver
é trabalhar em equipe, o tempo todo. Portanto, quanto mais rápido
tivermos consciência disto, melhor!" - Clorinda Sagala Denck em
seu livro “Corrente de balões”
A vida em sociedade
e os trabalhos em grupo se sustentam em certos pilares se queremos
alcançar bons resultados e criar ambientes pacíficos. Um deles é o
“diálogo”: a
interação entre duas ou mais pessoas.
Para que haja realmente diálogo, é essencial “aprender a ouvir”:
saber se colocar no lugar do outro a fim de entender seus pontos de
vista, seu posicionamento, sua forma de ver e de sentir o mundo -
primeiro passo para que aconteça uma boa comunicação. Na
atualidade, abandonamos a prática de ouvir e de dedicar atenção ao
outro, assim como a calma, o silêncio, os momentos únicos de estar
alguns minutos sozinhos para pensar, ler um poema, ouvir música. A
correria do dia a dia e o desrespeito consigo e com o outro têm se
refletido em atos violentos na sociedade, na escola, na família. Um
pouco além do “aprender a ouvir” é quando estamos abertos a
críticas. Às vezes, aprendemos muito sobre nós mesmos se ouvimos
com a mente aberta comentários alheios: o que podemos melhorar no
trabalho ou no relacionamento com familiares e amigos, por exemplo.
Ao criticar alguém, o ideal é escolher com cuidado as palavras, a
forma de encaminhar as questões e, de preferência, que seja um tema
discutido a sós ou com um mínimo de pessoas. Nem todo mundo está
preparado para receber críticas.
Ao
participar da oficina de canto
“Las
sonoridades de la voz” em
2011 no Centro Cultural de España em São Domingos, aprendi sobre a
importância de pensar em todos os membros do grupo sempre. O
professor mexicano Juan
Pablo Villa mostrou na prática, montando um coral, como o grupo era
prejudicado se uma pessoa destacasse sua
voz quando o objetivo era criar um som harmônico entre todos os
participantes. Só era incentivado a se sobressair quem fosse
convidado para ser solista. Estarmos atentos aos objetivos de um
trabalho sem perder de vista o todo nos ajuda a identificar quais são
as posturas que nos levam a um melhor desempenho e a construir
relações humanas com qualidade.
Respeitar
horários de reuniões e de trabalho é essencial.
Confirmar presença ou informar a impossibilidade
de participação em reuniões. Em
casos de imprevisto, nunca deixar de avisar que haverá atraso ou
falta, salvo se há impossibilidade de comunicação. Respeitar as
normas e, se não estiver de acordo com elas, propor ao grupo
discuti-las e reformulá-las. Saber identificar quando o silêncio é
bem-vindo, a fim de não desrespeitar o espaço do outro. Respeitar
a hierarquia, mesmo quando você não gosta de seu chefe, pois, no
trabalho, devemos ser objetivos, usar a razão, afastando muitas
vezes o nosso lado emotivo, especialmente se esta postura ajuda a
criar um clima de paz no grupo. Se você não está contente com seu
chefe, mude de trabalho – me ensinou o saudoso amigo Jorge Bercht.
Um
bom profissional não é necessariamente um chefe exemplar. Por isso,
não crie ilusões pensando que você ou seus colegas, sendo bons
profissionais, poderiam ser melhores chefes que o seu; afinal, só a
prática poderia provar se isso é verdade ou não.
Patrícia
R.T. Horta, em
sua tese de doutorado (Faculdade de Educação/USP), quando fala
sobre a “pluralidade das verdades ao se buscar entender a
realidade”, afirma: “Neste contexto, caberia o difícil exercício
de estar com os outros compartilhando fragilidades e inseguranças no
lugar de sólidas verdades.” A diversidade de pontos de vista nos
leva a entender melhor o mundo, a repensá-lo em sua complexidade,
valorizando a tolerância e a paz em todos os âmbitos: em casa, na
rua e no trabalho, em nível local, regional, nacional e mundial.
A
artista plástica Polly D’Avila, no blog “Tabacaria”*
(6/08/2014), nos alerta: “a rotina fatigou os corações humanos.
Captar a essência de outrem pode ser um sinal de generosidade. É
uma lâmina imaginária que retira aspectos da alma. Um ir em direção
ao outro.” Diz um antigo provérbio africano: “Se quer ir rápido,
vá sozinho; se quer ir longe, vá acompanhado.”
Agradecimentos
à professora Laura Ferreira, por sua leitura e comentários.
*
http://sidneif.wordpress.com/
GRANDO,
Cristiane. “Trabalhar
em grupo”.
Fique em Evidência.
Ed. 50, Ano 4. Cerquilho, setembro de 2014,
p.32.